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Seminário de Resíduos: leia entrevista com José Fernando Jucá, coordenador do Grupo de Resíduos Sólidos da UFPE

Crédito da foto: Revista Algo Mais

O Prof. Dr. da Universidade Federal de Pernambuco conversou com o Portal ABES Notícias e falou, entre outros assuntos, sobre tecnologias para reciclagem, economia circular, logística reversa e principais desafios sobre o tema no Brasil.

 Por Rhayana Araújo

“Rotas Tecnológicas” será o tema de um dos painéis do Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, que ocorrerá de 16 a 18 de março, em formato online.

Uma das palestras do painel, abordando “Tecnologias de reciclagem e de disposição final”, será ministrada pelo Prof. Dr. José Fernando Jucá, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no dia 18 de março, às 8h40. O evento, que é realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, está com inscrições abertas aqui.

“Rotas Tecnológicas” será o tema de um dos painéis do Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, que ocorrerá de 16 a 18 de março, em formato online.

Uma das palestras do painel, abordando “Tecnologias de reciclagem e de disposição final”, será ministrada pelo Prof. Dr. José Fernando Jucá, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no dia 18 de março, às 8h40. O evento, que é realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, está com inscrições abertas aqui.

José Fernando Jucá concede uma entrevista à ABES sobre a temática do seu painel e sobre suas expectativas para o evento. O palestrante introduz o assunto sobre as tecnologias para reciclagem; aponta que os dados sobre a logística reversa no Brasil ainda são negativos, pois ainda há um desconhecimento muito grande em relação ao assunto; e fala sobre os principais pontos que precisam avançar no Brasil sobre o tema. “A palestra que vou apresentar mostrará um estudo de caso em cidades brasileiras onde a aplicação de rotas tecnológicas de tratamento teve um impacto significativamente positivo”, frisa.

Entre outros debates, José Fernando Jucá também afirma na entrevista que a economia circular é promissora. “É uma economia regenerativa e restauradora por princípio, mantendo os produtos, componentes e materiais em seu nível mais alto de utilidade e valor, onde a redução dos rejeitos é inevitável. Espera-se que com a implementação de uma economia circular no setor de resíduos possamos reduzir de forma significativa as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de matérias primas”, afirma.

Confira a entrevista completa abaixo:

ABES Notícias – Qual a diferença entre destinação e disposição final dos resíduos?

José Fernando Jucá – A destinação de resíduos diz respeito a ação de destinar seus resíduos para uma alternativa tecnológica de tratamento: como a reciclagem, a compostagem, a recuperação e aproveitamento energético. Neste termo existe a possibilidade de reutilização e reuso dos resíduos, lembrando que muitas vezes os resíduos de uns são matérias primas para outros.

Já a disposição final se refere a dispor os rejeitos de forma ambientalmente adequada em aterros sanitários. Veja que neste caso já me refiro a rejeitos e não mais a resíduos. O que faz uma grande diferença, já que os rejeitos são os materiais que não tem mais possibilidade de serem aproveitados como energia nem como matérias primas. Este aspecto merece uma reflexão, que diz respeito aos mercados locais ou regionais capazes de absorver estes materiais. Estes aspectos serão abordados durante nossa palestra no evento do dia 18 (SNRS ABES).

ABES Notícias – Quais são as tecnologias para reciclagem mais promissoras atualmente no Brasil?

José Fernando Jucá – Na minha opinião não existe uma única tecnologia promissora para reciclagem, pois a escolha desta depende das condições locais, que inclui capacidade de investimento, recursos humanos qualificados para aquele fim, e principalmente, um mercado que absorva aqueles materiais. Além disso a reciclagem tem início no processo de triagem manual, que pode ser feita em vários níveis, desde o domicílio (casas, condomínios e bairros), até em grandes centrais de triagem totalmente mecanizadas, que fazem separação em esteiras com leitura ótica, capazes de separar de 600 a 1000 toneladas por dia, inclusive classificando os resíduos em diferentes tipos de plásticos, papeis e papelão por densidade, além da classificação pelas dimensões dos materiais. Estas grandes centrais de triagem, normalmente instaladas em CTRs, permitem vantagens competitivas em relação às associações e cooperativas de menor capacidade de triagem, pois tem maior produtividade (quantidade/preço) e regularidade nas entregas. Este fato gera um grande impacto social na receita dos catadores de materiais recicláveis, que trabalham em condições diferenciadas, em geral, muito precárias. Nesta alternativa de tratamento de resíduos as tecnologias mais promissoras são aquelas que incorporam os conceitos de economia circular e a PNRS, incluindo a redução de emissões agregada à reciclagem, a informação do mercado, e principalmente, tenha uma política de geração de emprego e renda para o cidadão. Lembro que uma quantidade de resíduos desviada do aterro reduz os custos e emissões, gera emprego e renda, cria oportunidades para o aproveitamento dos materiais e evita a exploração de novas matérias primas. Este assunto também permite uma infinidade de opiniões e merecem ser discutidos com mais atenção.

ABES Notícias – Como implementar métodos de tratamento de resíduos sólidos dentro de casa e até mesmo de apartamentos?

José Fernando Jucá – Tudo começa com a separação dos resíduos secos dos úmidos, a partir da qual podemos ter as alternativas de colocar a disposição do serviço de coleta, caso já exista coleta diferenciada, ou conduzir os resíduos secos a um ponto de entrega voluntária (PEV) ou a eco-estações, etc. No caso dos orgânicos (resíduos úmidos) existem várias técnicas de compostagem caseira, que tem sido muito aplicada em vários países da Europa, naturalmente para pequenas escalas e volumes. Esta é uma questão educacional ou mesmo cultural, que é factível em algumas regiões do País, mas não existem condições ainda para sua expansão e popularidade como seria desejado. Interessante que em muitas residências já temos esta separação, mas que não é acompanhada pelos incentivos econômicos, nem muito menos pelos modelos de coleta empregados no Brasil.

ABES Notícias – Como está o panorama da logística reversa no Brasil? Os dados são negativos ou positivos?

José Fernando Jucá – Um País onde 95% dos seus resíduos são coletados através de coleta indiferenciada e destinados a um aterro sanitário não cria alternativas de tratamento para uma logística reversa. Parece existir um desconhecimento dos benefícios socioambiental das alternativas de tratamento, como a reciclagem, compostagem ou mesmo do aproveitamento energético dos resíduos. Por exemplo, a grande maioria dos municípios brasileiros não conhecem seus próprios resíduos; me refiro a quantidade e qualidade (composição e propriedades). Se não conhece a matéria prima, nem o valor que tem, será muito difícil fazer logística reversa. Sequer conhecemos a disponibilidade das jazidas brasileiras de minerais e metais que poderão ser exploradas pela indústria. Tanto na Europa como no Estados Unidos foi identificado elevados riscos na falta de suprimentos de matéria prima para a indústria, gerando grandes impactos econômicos. Este fato foi explicado pela extração desordenada das jazidas, pequeno potencial de substituição da indústria e os baixos índices de reciclagem. Este mapeamento de matérias primas é desconhecido no Brasil, bem como o tempo e o nível de escassez de restante para sua exploração. Esta informação associada as demandas da indústria podem trazer um grande incentivo a logística reversa no Brasil. Assim sendo e respondendo a segunda parte da pergunta, os números brasileiros são praticamente todos negativos, existindo algumas exceções, que apenas justificam a regra.

ABES Notícias – A economia circular é uma das estratégias para tornar o cenário de resíduos sólidos mais positivo no Brasil?

José Fernando Jucá – A economia circular é sim estratégica para criar um cenário mais positivo no que se refere a um melhor aproveitamento dos seus resíduos sólidos urbanos no Brasil. Os seus benefícios já foram observados em vários países do mundo através da geração de renda e novos postos de trabalho, além da redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Os países e instituições envolvidas com esta temática emprestam uma credibilidade, tanto nos aspectos políticos, financeiros e de regulação para sua implementação. Vários eventos se realizam neste momento sobre a economia circular nas cidades brasileiras, em parceria com governos estaduais e países europeus, com muito boas perspectivas de evoluírem positivamente. A economia circular é uma combinação de riscos e oportunidades associado ao desenvolvimento econômico, suprimindo as falhas do modelo linear com suas grandes perdas. É, portanto, uma economia regenerativa e restauradora por princípio, mantendo os produtos, componentes e materiais em seu nível mais alto de utilidade e valor, onde a redução dos rejeitos é inevitável. Espera-se que com a implementação de uma economia circular no setor de resíduos possamos reduzir de forma significativa as emissões de GEE e o consumo de matérias primas. Além disso cresceremos as oportunidades nos setores de bens de consumo, de trabalho e geração de renda. No Brasil já existem algumas experiências implementadas no setor industrial em estados do Sul e Sudeste. Na área da gestão municipal são poucas experiências e ainda predomina muito desconhecimento sobre o assunto.

ABES Notícias – Na sua opinião, o que precisa avançar no Brasil sobre o tema?

José Fernando Jucá – É necessário que haja políticas públicas, como a PNRS, mas que sejam devidamente implementadas. Acredito que a educação ambiental, a conscientização da população, incluindo os diferentes setores da sociedade, seja um elemento fundamental para avançar com estas pautas no Brasil. A formação adequada das pessoas que trabalham nos setores governamentais, nas associações e cooperativas de catadores, nas empresas seria um bom começo para inovações e transformações tão necessárias. E por último, acho que devemos conhecer melhor nossos resíduos, suas origens, suas propriedades e suas aplicações.

Do ponto de vista técnico, um grande avanço para o planejamento e avaliação da gestão dos resíduos sólidos é a análise do sistema de limpeza urbana através de rotas tecnológicas de tratamento dos resíduos sólidos urbanos. As rotas tecnológicas definem as alternativas de tratamento desde a coleta até a destinação final, permitindo uma análise sistêmica de custos dos serviços separadamente e também em seu conjunto, dando visão estratégica de qual a rota mais interessante em cada caso. Esta visão econômica é complementada com a avaliação ambiental das reduções de emissões de gases de efeito estufa proveniente da reciclagem e do desvio de materiais orgânicos dos aterros sanitários. Além disso permite avaliar o potencial de geração de emprego e renda de cada rota tecnológica escolhida. Esta abordagem permite conhecer os custos e os benefícios socioambientais oferecidos em cada rota, com uma visão bem atual, que está em consonância com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU. A palestra que vou apresentar mostrará um estudo de caso em cidades brasileiras onde a aplicação de rotas tecnológicas de tratamento teve um impacto significativo. Os primeiros estudos sobre rotas tecnológicas para tratamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil tiveram origem em um convênio celebrado entre o BNDES e a GRS/FADE/UFPE, quando se reuniram em um mesmo trabalho 62 profissionais, envolvendo consultores nacionais e internacionais da Europa, Estados Unidos e Japão.

ABES Notícias – Quais as suas expectativas para o Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, que ocorrerá de 16 a 18 de março?

José Fernando Jucá – Para mim é uma grande honra participar de um evento como este, onde estive desde o primeiro e continuo participando com muito entusiasmo. Todos os eventos organizados pela ABES são mais do que interessantes devido à quantidade e qualidade do público e dos profissionais que os acompanham dos mais diversos setores. Têm uma abordagem técnica elevada e a pluralidade de vozes que os caracteriza.

Sobre o palestrante:

José Fernando Jucá é engenheiro civil pela Universidade Federal de Pernambuco e Doutor pela Universidad Politécnica de Madri. Em 1994 criou o Grupo de Geotecnia Ambiental/Resíduos Sólidos (GRS/UFPE), onde coordena vários projetos de pesquisa financiados por agências de fomento Estadual, Federal e Municipal, nas áreas de Biogás, Bioenergia e Gestão de Resíduos Sólidos Urbano, atuando como consultor em vários estados brasileiros, com ênfase nos grandes aterros sanitários do país, como os de São Paulo (Bandeirantes e São João), Minas Gerais (Sabará), Bahia (Feira de Santana, Metropolitano), Ceará (Caucáia), Paraíba (João Pessoa e Campina Grande), entre vários outros.

Em 2009 recebeu o Título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico da Academia Brasileira de Ciências por suas contribuições científicas e técnicas. No período de 2012 a 2014 coordenou o projeto “Alternativas tecnológicas para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, com base na experiência da Europa, Estados Unidos e Japão”, financiado pelo BNDES, com a participação de 62 consultores do Brasil e exterior. Em 2015, foi o ganhador do Prêmio Fundação Bunge Saneamento Básico (Resíduos Sólidos Urbanos).

Sobre o evento: 

Esta é a 14ª edição do Seminário Nacional dos Resíduos Sólidos, que inicialmente estava prevista para julho de 2020 e foi transferida para o período de 16 a 18 de março de 2021, no formato online, devido à pandemia de Covid-19, incorporando algumas inovações.

O evento tem o objetivo de avaliar o cenário recente dos resíduos sólidos no Brasil, considerando a política nacional, as alterações do marco legal do saneamento, e as diretrizes internacionais para atingimento das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Como também, compartilhar experiências exitosas, novas tecnologias e procedimentos, de modo a aperfeiçoar os serviços relacionados ao manejo dos resíduos sólidos.

O seminário ocorre a cada dois anos e reúne especialistas de todo o Brasil, que buscam a integração de conhecimentos e novas trocas de experiências sobre os temas mais atuais em relevância. Além de palestras e painéis, também haverá a apresentação de trabalhos técnicos, espaço comercial e visitas técnicas.

Para mais informações, acesse aqui.

 

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