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14º Seminário Nacional de Resíduos Sólidos: codiretora da DIRSA fala sobre sistema de gestão de Montevidéu

Engenheira civil Mariana Robano vai detalhar ações realizadas no setor na capital do Uruguai durante a pandemia de covid-19.

Por Jéssica Marques

O 14º Seminário Nacional de Resíduos Sólidos| I Painel Internacional de Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES vai contar com a participação da engenheira civil Mariana Robano, que será realizado online entre os dias 16 e 18 de março de 2021. A palestrante vai representar o Uruguai e detalhar as ações realizadas no setor em Montevidéu durante a pandemia de covid-19.

Mariana é codiretora da DIRSA, que é a Divisão de Resíduos Sólidos da Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental – AIDIS. A participante, junto a outros convidados internacionais, fará parte do I Painel Internacional de Resíduos Sólidos.

“Minha participação está focada em mostrar os resultados do estudo desenvolvido para Montevidéu sobre a gestão de resíduos durante a pandemia. O caso de Montevidéu é um exemplo de sistema de gestão resiliente a tal situação. A pandemia deixou lições para a tomada de decisões no gerenciamento de resíduos que são coletadas no estudo que realizei, onde reconheço, entre outros, a necessidade de fortalecer o sistema de recuperação de material para evitar a sua suspensão”, disse Mariana.

O evento é fruto de uma parceria entre a ABES e a DIRSA. As inscrições podem ser feitas no site do evento (acesse aqui). Na ocasião, os palestrantes abordarão o impacto da covid-19 no setor de resíduos sólidos na região da América Latina e Caribe, trazendo experiências e medidas aplicadas em relação à geração, coleta e tratamento de resíduos, regulação dos serviços, impacto na saúde dos trabalhadores do segmento e as consequências do processo na sociedade.

Mariana é engenheira civil (hidráulico-ambiental), com mestrado em Engenharia e diploma em Produção Mais Limpa. Além disso, é especializada em Economia Circular e Sustentabilidade, com mais de 20 anos de experiência profissional nos setores público e privado.

A profissional também integra o corpo diretor técnico da ReAcción, agência de consultoria que assessora empresas e organizações no desenvolvimento e execução de suas estratégias de sustentabilidade. A ReAcción é uma ferramenta para tornar os processos mais ecoeficientes, com foco em atuar para reduzir, reaproveitar e reciclar, implantar Planos de Mobilidade Sustentável, entre outros.

Confira a entrevista, na íntegra:

ABES – Quais são as suas expectativas em participar do I Painel Internacional de Resíduos Sólidos?

Mariana Robano – O encontro e o intercâmbio com colegas da região são sempre atividades enriquecedoras. Na prática profissional, se manter atualizado é essencial para um melhor desempenho.

ABES – Em sua opinião, qual é a importância da realização deste evento?

Mariana Robano – A gestão de resíduos no mundo e na região enfrenta vários desafios ambientais, sociais e econômicos que a covid-19 tem destacado e desafiado ainda mais. Esta reunião permitirá reconhecer a situação e compartilhar as melhores práticas, talvez inspirar caminhos comuns para avançar em algumas metas de desenvolvimento sustentável, ou encontrar maneiras de continuar a aproximar as estratégias da economia circular. Modernizar a gestão de resíduos em uma concepção integrada com outras disciplinas é vital para construir soluções para um desafio que é tanto local quanto global de grande magnitude.

ABES – Que contribuições sua participação trará para o evento?

Mariana Robano – Minha participação está focada em mostrar os resultados do estudo desenvolvido para Montevidéu em termos de gestão de resíduos durante a pandemia. O caso de Montevidéu é um exemplo de sistema de gestão resiliente a tal situação. A pandemia deixou lições para a tomada de decisões no gerenciamento de resíduos que são reunidas no estudo que realizei, onde reconheço, entre outros pontos, a necessidade de fortalecer o sistema de recuperação de material para evitar suspendê-lo.

ABES – Qual foi o impacto da pandemia do coronavírus na gestão de resíduos sólidos no Uruguai?

Mariana Robano – Em geral, no Uruguai e particularmente em Montevidéu, que é a capital, a pandemia teve o efeito de manter cidadãos em suas casas (voluntariamente) e houve uma retração das atividades econômicas e produtivas em geral.

A análise da renda total do aterro sanitário de Montevidéu mostra uma diminuição, durante a pandemia, de 13% em comparação com 2019. Ao abrir este resultado por fluxo de resíduos, há diferenças de comportamento.

A permanência das pessoas em suas casas se refletiu em um aumento de 3,5% na disposição final do lixo doméstico, sendo o único fluxo que aumenta (a uma taxa menor do que seu aumento histórico).

O fluxo de resíduos industriais mostra uma redução de 20% na quantidade de resíduos enviados para disposição final, enquanto os resíduos comerciais diminuíram em 30%. Os resíduos sanitários tratados que entram na disposição final também mostram sinais de diminuição da pandemia em pelo menos 16%.

Outro resultado a ser destacado é que a pandemia evidenciou a fragilidade dos sistemas formais de recuperação de material da cidade, que ficaram completamente paralisados durante parte deste período devido ao seu alto grau de triagem manual e como consequência da vulnerabilidade dos catadores informais que estão expostos a riscos à saúde devido à forma como trabalham. A suspensão das atividades de coleta seletiva e triagem fez com que a recuperação formal dos recicláveis domésticos caísse para zero.

Em resumo, como em outras cidades do mundo, o impacto da emergência sanitária na geração de resíduos em Montevidéu se reflete de duas maneiras: por um lado, a quantidade total de disposição de resíduos no aterro sanitário da cidade diminuiu e, por outro lado, o fluxo de resíduos domésticos foi afetado por um aumento nesse período.

ABES – Quais foram as principais medidas adotadas neste período na área de geração, coleta e tratamento de resíduos?

Mariana Robano – As principais medidas adotadas foram a suspensão da coleta seletiva de março a junho de 2019, o que fez com que a recuperação dos materiais caísse para zero. Isso é explicado pelo fato de que a classificação dos materiais é baseada em tarefas manuais. No entanto, no futuro, deve ser analisada uma alternativa para estabelecer a quarentena dos materiais e assim não interromper a coleta seletiva.

Outra medida adotada foi informar à população como proceder com a gestão de resíduos em residências com pessoas doentes com covid-19. Nesses casos, a indicação era de usar sacos triplos de acordo com as recomendações da Associação Internacional de Resíduos Sólidos – ISWA.

ABES – O que tem sido feito para a saúde dos trabalhadores que coletam os resíduos sólidos?

Mariana Robano – A coleta em contêineres é amplamente utilizada em vários departamentos do país, especialmente em Montevidéu, que teve o maior número de infecções. Este sistema de coleta mecanizada evita que os trabalhadores encarregados da coleta estejam em contato direto com os resíduos, o que, do ponto de vista da saúde, é uma vantagem diferencial em relação a outras cidades.

Outro aspecto a destacar é que há mais de 20 anos o país possui um sistema separado para o gerenciamento de resíduos sanitários (da área de saúde), o que evita que estes resíduos sejam misturados com o lixo doméstico. Os resíduos sanitários são tratados para descontaminação em locais específicos.

ABES – Como são geridos os resíduos sólidos no Uruguai?

Mariana Robano – A lei de gestão integrada de resíduos, aprovada em novembro de 2019, define os diferentes fluxos de resíduos e sua gestão de acordo com a origem da geração de resíduos sólidos. É assim que temos os fluxos de:

– Lixo doméstico;

– Resíduos da limpeza urbana;

– Resíduos de atividades econômicas-produtivas (indústrias e empresas);

– Resíduos sanitários;

– Resíduos de obras civis;

– Resíduos especiais: embalagens de qualquer tipo, plásticos de uso único, baterias chumbo-ácidas, pneus, lixo eletrônico, lâmpadas de baixo consumo, óleo usado.

Praticamente todos eles têm uma regulamentação específica que estabelece as responsabilidades dos diferentes atores.

ABES – Quais são as experiências mais bem sucedidas no setor de resíduos sólidos no Uruguai?

Mariana Robano – Historicamente, o Uruguai tem uma alta porcentagem (mais de 90%) de cobertura do serviço de coleta de lixo doméstico urbano, o que o faz se destacar no nível regional.

Por outro lado, desde 2007, tem uma regulamentação específica baseada no princípio da responsabilidade ampliada do importador/produtor de embalagens. Sua implementação por meio do plano de gestão de embalagens ainda tem muitos desafios pela frente, mas estes mais de 15 anos de experiência são a base para repensar o sistema de recuperação de materiais.

Vale destacar também a gestão dos resíduos sanitários no país, que desde 1999 são geridos separadamente de outros fluxos. O país tem a capacidade de tratar e descontaminar este tipo de resíduos.

Em 2018, por lei, o uso de sacos plásticos foi regulamentado, o que teve um impacto na diminuição do uso de sacos plásticos pela população e destacou as consequências ambientais do consumo de plásticos de uso único.

ABES – O que poderia ser feito para melhorar o sistema de resíduos sólidos do Uruguai, em sua avaliação?

Mariana Robano – Os cidadãos uruguaios ainda precisam incorporar hábitos de consumo responsável e compreender as responsabilidades de cada pessoa e organização na gestão de resíduos. Associar mais o problema dos resíduos desde sua concepção ao projeto de produtos e embalagens, reduzindo produtos de uso único, melhorando a infraestrutura, logística e acesso para a recuperação de resíduos triados, educando e melhorando a experiência de triagem e reintegração em cadeias de valor.

A educação e o treinamento contínuo de adultos, comunicação clara e atraente também são fundamentais para um sistema confiável e sustentado. Indicadores e dados abertos e transparentes são algumas das estratégias que aplicamos na ReAcción.

Também é fundamental fortalecer as empresas que utilizam menos materiais e geram menos resíduos para o mesmo serviço, assim como outras que reutilizam materiais reciclados aplicando o projeto e impulsionando a cadeia de valor.

16 Comentários em 14º Seminário Nacional de Resíduos Sólidos: codiretora da DIRSA fala sobre sistema de gestão de Montevidéu

  1. Greetings! Very helpful advice in this particular article! It is the little changes which will make the most important changes. Thanks a lot for sharing!

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