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Congresso da ABES 2021: leia entrevista com Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que fará a Palestra Inaugural do evento

A  especialista destaca as mudanças necessárias mais urgentes que as cidades devem fazer para auxiliar no processo de limitação dos impactos das mudanças climáticas; como conscientizar a sociedade, empresas e governos em todos os seus níveis para que se tomem medidas imperativas; e cita o papel do saneamento para auxiliar neste processo.

Por Equipe de Comunicação ABES

O 31º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental está chegando! O mais importante evento de saneamento e meio ambiente do Brasil abrirá no dia 17 de outubro, domingo, às 19h, com palestra inaugural ministrada por Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Na ocasião, a matemática, professora e pesquisadora na área das ciências da Terra e mudanças climáticas abordará o tema “Mudança do clima e cidades inteligentes e saneamento”.

Em entrevista exclusiva para o Portal ABES Notícias, Thelma destaca, entre outros pontos, as mudanças necessárias mais urgentes que as cidades devem fazer para auxiliar no processo de limitação dos impactos das mudanças climáticas; como conscientizar a sociedade, empresas e governos em todos os seus níveis para que se tomem medidas imperativas; e cita o papel do saneamento para auxiliar neste processo.

A especialista pontua os riscos que o planeta corre, no longo prazo, caso as cidades não incorporem a sustentabilidade no seu planejamento. “Os prejuízos para as sociedades, para as empresas, para os meios de subsistência, serão muito mais profundos do que buscar evitar esses riscos com ações de mitigação e adaptação também. É preciso termos consciência que os mais afetados e vulneráveis são os que menos contribuem para o aquecimento global”, afirma Thelma.

A palestrante comenta ainda a importância do 31º Congresso da ABES. “Promover transformações propiciará um mundo mais saudável não só para esta geração como também para as gerações futuras. Cidades inteligentes, saneamento e mudança do clima estão relacionados: as cidades inteligentes são mais resilientes e adaptadas à mudança do clima e devem incluir políticas sustentáveis para o saneamento, que será afetado tanto pelas inundações quanto pelas secas projetadas com o aquecimento”, enfatiza a pesquisadora.

Confira a entrevista completa, a seguir: 

ABES – A mudança do clima já vem causando impactos em todo o Planeta. Caso não haja uma mudança sem precedentes em todos os setores da sociedade, o que se espera? Como as cidades podem ajudar a conter o aquecimento?

Thelma Krug – De fato, a mudança do clima já está afetando a atmosfera, o oceano, a biosfera, a terra, a criosfera … e isto com um aquecimento de 1.1oC acima dos níveis pré-industriais. Este aquecimento já tem provocado uma maior frequência e intensidade de eventos climáticos e meteorológicos extremos, como eventos de extremo calor, incluindo as ondas de calor, fortes chuvas e secas. Com o aumento do aquecimento, esses eventos vão se intensificar ainda mais, com graves consequências, particularmente para as cidades, que não detém de sistemas de escoamento e saneamento apropriados. As cidades têm um grande potencial para ajudar a conter o aquecimento, quer seja no transporte ou nas edificações.

ABES Notícias – A ciência indica que é possível limitar o aquecimento em níveis que minimizem os riscos dos impactos aos sistemas humano e natural. Quais as mudanças necessárias mais urgentes que as cidades devem fazer para auxiliar neste processo?

Thelma Krug – O maior vilão do aquecimento e da mudança do clima é o setor de energia. Mais de 80% das emissões de gases de efeito estufa estão relacionados à queima de combustíveis fósseis e o restante à mudança do uso da terra, principalmente a conversão de florestas para outros usos. As cidades têm grandes oportunidades para reduzir suas emissões – por exemplo, os sistemas de transporte urbano, água e energia têm que ser repensados nos próximos anos, principalmente nos países em desenvolvimento que ainda expandem as suas cidades, e têm uma forte migração das áreas rurais para as áreas urbanas. Assim, para a mudança sistêmica necessária para limitar o aquecimento, energia, infraestrutura, eletrodomésticos, planejamento urbano, opções de transporte e adaptação são aspectos do sistema urbano que podem contribuir.

ABES Notícias- Quais são os riscos que o planeta corre, a longo prazo, caso cidades não incorporem a sustentabilidade no seu planejamento?

Thelma Krug – Bom, o planeta já está sofrendo com o aquecimento, e isto fica claro com as observações de mudanças no sistema climático: elevação do nível do mar, acidificação e desoxigenação do oceano, perda da massa de gelo no mar Ártico; retração das geleiras na Groenlândia; aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera… São alguns exemplos. A redução de alguns desses riscos de impactos futuros ou mesmo a eliminação deles só ocorrerá se rápidas, profundas e sustentadas reduções de emissões ocorrerem. A mudança do clima pode comprometer o desenvolvimento sustentável.

ABES Notícias – Na sua opinião, como as cidades inteligentes podem ajudar a atenuar os impactos da mudança do clima? Como o saneamento pode contribuir para melhorar esses impactos?

Thelma Krug – Há inúmeras formas das cidades contribuírem para evitar ou minimizar os riscos de impactos da mudança do clima. As edificações, por exemplo, têm grande potencial para reduzir emissões através da eficiência energética em suas instalações e já há exemplos de construções com emissões líquidas zero. Equipamentos eficientes, iluminação adequada, uso de biomateriais, formas sustentáveis de transporte, integração da gestão de recursos hídricos sustentáveis, áreas verdes também são alguns exemplos. A questão do transporte sustentável, além de poder contribuir com a mitigação da mudança do clima, contribui também para a redução da poluição do ar, congestionamento e fatalidades em estradas. E, claro, o suprimento de água urbana e o tratamento de águas residuais, que são muito intensivos em energia e contabilizam significativas emissões de gases de efeito estufa, devem merecer opções para melhorar a provisão de água potável e saneamento, que incluam a questão do clima nas políticas públicas.

ABES Notícias – Como conscientizar sociedade, empresas e governos em todos os seus níveis em países com distintas realidades em todo o mundo, para essas medidas tão urgentes?

Thelma Krug – Temos visto recentemente vários exemplos de eventos climáticos extremos – ondas de calor no Canadá, fortes chuvas na Alemanha… Esses eventos trazem enormes prejuízos, não só financeiros, mas para as populações, inclusive com mortalidades. O IPCC tem reafirmado que esses eventos não só estão se tornando mais frequentes, mas também mais intensos, e essas ocorrência se tornarão ainda mais frequentes e intensas com o aumento do aquecimento. Os prejuízos para as sociedades, para as empresas, para os meios de subsistência, serão muito mais profundos do que buscar evitar esses riscos com ações de mitigação e adaptação também. A Convenção do Clima, que tem 196 governos membros, é o fórum político onde essas questões devem ser tratadas, com base na ciência, conscientes de que os mais afetados e vulneráveis são os que menos contribuem para o aquecimento global.

ABES Notícias – Poderia comentar, brevemente, sobre o 31º Congresso da ABES, que será realizado em Curitiba neste mês de outubro, com o tema central Cidades Inteligentes conectadas com o saneamento e o meio ambiente: desafios dos novos tempos?

Thelma Krug – Eventos dessa natureza são uma forma de difundir, comunicar, os resultados científicos e as projeções de potenciais climas futuros e como esses podem afetar a economia e as sociedades de uma maneira geral. Segundo, é uma oportunidade ímpar para comentar formas alternativas de como o futuro do clima pode evoluir, em todos os setores da economia. Finalmente, o entendimento de que promover transformações propiciará um mundo mais saudável não só para esta geração como também para as gerações futuras. Cidades inteligentes, saneamento, e mudança do clima estão relacionados: as cidades inteligentes são mais resilientes e adaptadas à mudança do clima e devem incluir políticas sustentáveis para o saneamento, que será afetado tanto pelas inundações quanto pelas secas projetadas com o aquecimento.

Sobre o 31º Congresso da ABES

O mais importante evento de saneamento ambiental do Brasil ocorrerá de 17 a 20 de outubro, de forma híbrida: presencial, em Curitiba, Paraná, e virtualmente, em plataforma digital exclusiva e interativa. O tema central desta edição 2021 é “Cidades Inteligentes conectadas com o saneamento e o meio ambiente: desafio dos novos tempos”. Confira a programação AQUI.

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