Luis Eduardo Grisotto (Câmara Técnica de Recursos Hídricos da ABES-SP e Cobrape) Nelson Campos Lima (DAEE) falam sobre a importância da realização, detalham novidades da edição e contribuições das discussões acerca da temática para o setor. O mais importante evento internacional de água e saneamento realizado no páis começa nesta segunda-feira (3), em plataforma digital excluisiva.
Com foco na discussão sobre Financiamento no Setor de Saneamento, o tema 7 da Brazil Water Week – Semana da Água do Brasil 2024 contemplará sessões com abio relevantes sobre o assunto nesta quarta edição do mais importante evento internacional de discussão de água e saneamento realizado no país.
Realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), o evento começa nesta segunda-feira, 3 de junho, e vai até sexta (7) online, em plataforma digital exclusiva e interativa, guiado pelo tema central “Água e Saneamento para o desenvolvimento sustentável”.
A iniciativa vai reunir profissionais e especialistas de diversas partes do mundo com as comunidades acadêmica e técnica do país. A realização é uma rica oportunidade de trocar experiências e iluminar conhecimentos relevantes de realidades diversas, bem como divulgar as melhores práticas brasileiras em nível internacional.
Durante cinco dias, na plataforma exclusiva da BWW 2024, serão realizadas 19 Sessões Técnicas de discussão. Os inscritos terão acesso a uma programação exclusiva voltada para compartilhar trocas de experiências nacionais e internacionais sobre oito grandes temas: Inclusão social e acesso universal; Tratamento de esgotos/ETEs sustentáveis; Economia circular e Soluções Baseadas na Natureza; Regulação; Gestão Eficiente; Cooperação Internacional; Financiamento do setor de Saneamento; “Meio Ambiente, Mudança Climática e Segurança Hídrica”.
O Tema 7 é coordenado por Luis Eduardo Grisotto, coordenador da Câmara Técnica de Recursos Hídricos da ABES-SP e diretor da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape), e por Nelson Campos Lima, diretor de Engenharia e Obras do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) de São Paulo.
A BWW reunirá mais de 100 especialistas do Brasil e de outros países, que abordarão questões fundamentais para o futuro dos recursos hídricos e do saneamento no Brasil e no mundo. “Esses profissionais, principalmente de âmbito internacional, trazem elementos para nos ajudar a encontrar caminhos, mecanismos inovadores para trazer o financiamento e melhorar o clima do investimento e alavancar recursos de uma forma muito mais acelerada para o setor”, comenta Grisotto, otimista.
Nesta entrevista, os coordenadores destacam a importância de alavancar o debate sobre o financiamento do setor rumo às metas de universalização do saneamento no país. O diretor do DAEE também comenta e pontua que “o relevante desse tipo de discussão é preparar os agentes tomadores [de decisão]. Quanto menos juros pagarmos, mais requisitos esse financiamento vai ter e, para isso, precisamos de bons projetos, de boas iniciativas”.
Leia a entrevista:
Portal ABES Notícias – Como os senhores veem a importância da Brazil Water Week para o setor de saneamento e meio ambiente no país?
Nelson Campos Lima – É um evento muito importante porque reúne toda a comunidade. Traz as experiências internacionais e isso tem grande valia para o planejamento e execução no cenário de saneamento. Percebemos o quanto é necessário que tenhamos soluções inovadoras e coerentes para atingir a universalização tanto em serviço de drenagem quanto nos serviço de tratamento de esgoto, fornecimento de água etc.
Luis Eduardo Grisotto – A Brazil Water Week é um evento tradicionalmente realizado pela ABES como uma certa continuidade do fórum mundial da água no país, que amplia uma série de debates sobre políticas, estratégias, ações, desafios, conhecimentos, uma diversidade muito grande de aspectos para a pensarmos o setor de saneamento, a viabilização e ampliação de investimentos no setor, a melhoria e a renovação dos ativos existentes, a universalização dos serviços, qualidade sanitária e até o alcance dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS da ONU.
Então é um evento bem importante. Vai reunir muita gente, agentes econômicos, especialistas, entidades nacionais, internacionais, profissionais do setor, estudantes para discutir exemplos, experiências, soluções, enfim, caminhos para o avanço do setor de saneamento.
Portal ABES Notícias – O que a Brazil Water Week está trazendo de novidade para dentro do seu tema nesta edição?
Nelson Campos Lima – Estamosbuscando demonstrar junto aos órgãos financiadores linhas que possam apoiar inovações, projetos e soluções que sejam baseados na natureza, porque não é fácil fazer isso quando você está falando de obras convencionais. Ou seja, tem um padrão bem claro. Um dos pontos que estamos tentando trazer aqui é como o mercado financeiro pode apoiar soluções que são diferentes, como já foi feito, por exemplo, no rio Pinheiros. Então, é necessário trazer isso para o saneamento como um todo, não só focado em perdas, por exemplo, ou tratamento de esgoto, mas olhar esse todo. Como eu posso trazer novas tecnologias que vão trazer mais produtividade, mais eficiência pro sistema? Necessitamos dos agentes financiadores.
Luis Eduardo Grisotto – Existem diversos desafios para os investimentos e para o financiamento do setor, principalmente neste tempo de novo marco legal do saneamento, que estabelece como meta de universalização o ano 2033 para água e esgoto. Porém, o marco legal trata de desafios igualmente importantes para o setor de drenagem urbana, manejo de águas pluviais e também para o setor de resíduos sólidos. Então nós estamos diante realmente de um grande desafio e sabemos que para essas melhorias, para essa aplicação e expansão dos sistemas no campo do saneamento ambiental precisa de investimentos.
Os investimentos, para universalizar e chegar nessas metas, são vultuosos. Temos que fugir um pouco do tradicional, do que foi a história do Brasil em investimentos e partir para uma linha muito mais ousada, mais moderna, como diz o Nelson, muito mais eficiente. Nós precisamos buscar caminhos para isso, buscar ideias, buscar experiências.
Uma novidade que acho bem legal é como superamos os desafios político-administrativos, institucionais, regulatórios, técnicos e contratuais para vencer esses obstáculos do aporte de investimentos. Essas coisas não são diretamente relacionadas a investimento, mas se associam ao ambiente regulatório, uma série de coisas que atraem os investimentos, seja do setor público, seja do setor privado.
Portal ABES Notícias – De que forma essa discussão pode contribuir para transpor o desafio de garantir investimentos em saneamento para elevar os padrões de salubridade no país e atender as populações mais vulneráveis?
Nelson Campos Lima – A construção desse tipo de financiamento requer uma boa técnica. Então, quanto mais discutirmos, mais vamos demonstrar, trazer esses órgãos financiadores, demonstrar quais são esses requisitos, mais pessoas estarão preparadas para produzir melhores projetos e esses projetos serão possíveis de entregar os resultados que a população precisa, principalmente em projetos em que lidamos com a população que tem menor capacidade de pagamento. Então, não basta ter o recurso, o setor precisa estar preparado para poder acessar isso de uma maneira inteligente e eficiente.
Luis Eduardo Grisotto – Assino em baixo. Os entraves principais em investimento de fato primeiro são os próprios mecanismos de internalização desses investimentos. Superar esses entraves burocráticos, essas questões políticas, é muito importante para atrair e conseguir internalizar esses investimentos, mas o Nelson tem toda a razão: precisa capacitar os prestadores de serviço!
Os profissionais precisam entender do assunto e estar preparados, o mercado precisa estar preparado para fornecer mão de obra, fornecer equipamento. Os fornecedores têm que ter insumos suficientes. A Brazil Water Week trazendo esses profissionais, esses especialistas de renome nacional e internacional, é importante porque eles iluminam muito esse tipo de caminho.
Portal ABES Notícias – Como vocês avaliam os esforços que o setor tem empenhado para garantir investimentos? Tem encontrado êxito ou ainda é uma grande preocupação?
Nelson Campos Lima – Temos vários projetos que têm atingido com êxito os resultados esperados, mas dado o cenário que temos do saneamento, ainda continua a preocupação. Se não, estaríamos totalmente universalizados em água e esgoto, com as cidades resilientes e preparadas em questões climáticas. Então, ainda é uma preocupação, mas conseguimos trazer para cá bons projetos que vão ser discutidos dentro da comunidade como um exemplo de como podemos vencer esses desafios.
Luis Eduardo Grisotto – O setor brasileiro de saneamento é muito bem preparado. Tem boas lições, muita experiência bacana aqui, muitas empresas públicas ou privadas fazendo coisas interessantes, inovadoras muitas vezes. Mas acho que temos alguns grandes desafios no setor, que precisa melhorar sua capacidade de responder essas demandas. Por exemplo, atendimento a áreas informais, às populações mais vulneráveis e à própria área rural.
O marco legal do saneamento estabelece metas para o município como um todo, não só para a área urbana. Ele exige que as empresas implantem sistemas em áreas rurais e também em áreas informais e isso requer estratégias diferenciadas de atuação. As empresas precisam estar preparadas para esse desafio. O setor está preocupado em evoluir e se modernizar, trazendo maior lucratividade e rentabilidade para as empresas operadoras e, por outro lado, atendendo de uma forma mais consistente e conveniente ao cidadão.
Portal ABES Notícias – Como está sendo o desafio de coordenar o Tema 7 do evento?
Nelson Campos Lima – Como estou trabalhando com um cara muito experiente, para mim é desafiador mesmo porque temos que falar com diversos entes, então essa questão do networking que temos que fazer para conseguir viabilizar uma sessão não é fácil de fazer, mas é muito motivador. Você acaba também se abrindo para o mercado, conversando mais. E ter um profissional como o Grisotto dividindo essa coordenação é muito bom porque ele já conhece os caminhos, o que facilita o trabalho. O desafio é grande, mas quando vemos o resultado final e o bem que fazemos para a comunidade do saneamento como um todo, é muito bom.
Luis Eduardo Grisotto – O prazer é todo meu de ter um cara como o Nelson, hoje mais ligado à drenagem, mas super experiente, que trabalhou muitos anos no saneamento. Então, acho que coordenar uma sessão como essa é sempre um desafio porque nos preocupamos em trazer profissionais e especialistas que tenham uma grande contribuição. Esta é uma coisa que nos deixa muito satisfeitos, honrados de dialogar com pessoas nessa preparação, que entendem como ninguém do assunto de saneamento, que têm soluções, ideias, estratégias e muita bagagem para contribuir para qualificar essa discussão diante de tantos desafios que ainda temos no Brasil.