Soluções em ETEs nas mais diversas condições nortearam debate do último dia da Semana da Água do Brasil, apresentando soluções com foco na sustentabilidade.
“Está mais do que claro que quando tratamos o esgoto não obtemos resíduos ou subprodutos, mas super-produtos, que por sua vez, nos auxiliam na cadeia verde, na transição energética. E vou além, o esgoto chega a até nos dar dicas de como podemos ser mais sustentáveis”.
Com essas palavras,Gustavo Possetti, gerente de pesquisa e inovação da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e coordenador da Câmara Temática de Tratamento de Esgoto da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), moderou com entusiasmo a sessão “ ETEs sustentáveis: modelos inovadores para o futuro do saneamento, na manhã desta sexta-feira, 7 de junho, último dia da 4ª edição da Brazil Water Week (BWW 2024) – Semana da Água do Brasil. O mais importante evento internacional de discussão de água e saneamento realizado no país é uma iniciativa da ABES e acontece em plataforma online exclusiva e interativa.
A sessão, que faz parte do Tema 2 – Tratamento de Esgotos – ETEs sustentáveis, do qual Possetti é coordenador, ao lado de Nivaldo Rodrigues (superintendente da Sabesp e vice-presidente da ABES-SP), contou com apresentações dos seguintes especialistas: Ana Soares, professora de Engenharia Biotecnológica, com especialização em proteção ambiental da água e recuperação de recursos na Cranfield University (Inglaterra); Nuno Brôco, CEO da Águas do Tejo Atlântico (Portugal); e Kartik Chandran, Professor da Columbia University (EUA), que foi o primeiro a falar.
Chandran lançou uma provocação sobre os problemas globais vividos, como a falta de água, pobreza, questões demográficas e climáticas. “Se pensarmos apenas nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) de forma única, não serão resolvidos todos os problemas citados. As ETEs usam muitos produtos químicos em seu processamento e para alcançarmos a universalização, precisamos criar recuperações de resíduos de maneira que sejam sustentáveis em tudo”, frisou.
Para exemplificar, o pesquisador apresentou as inovações feitas pelo sistema Nexus, instalado em Gana (África), que contava com demandas severas de saneamento. Por meio da combinação holística de estudo e inovação para o esgotamento sanitário, auxiliando as comunidades ao abastecimento e saneamento. “Isso não envolve apenas tecnologias, mas trabalhar melhor os recursos existentes sem gastos energéticos excessivos. Tivemos excelentes resultados, como extração de produtos biossintéticos”, arrematou.
Em seguida, Ana Soares fez um diagnóstico das ETEs presentes no Reino Unido e que cobrem 95% de sua população, porém demandam muitos custos em usar substâncias químicas no tratamento de esgoto.
Para a professora, a viabilização da economia circular envolve a promoção de parcerias, renovação de tecnologias, e, principalmente, uma mudança de comportamento da população e de governos. “As ETEs no Reino Unido funcionam bem, mas com tecnologias conservadoras e de custos elevados. Realizamos estudos e testes com, por exemplo, Reatores UASB e estamos conseguindo extrair elementos nobres da água residual e destinação do lodo de maneira mais sustentável. Mas ainda há gaps, como as moléculas de amônia, que demandam produtos químicos”, ressaltou, parabenizando as parcerias com o Brasil nessas pesquisas.
Nuno Brôco finalizou as apresentações contando sobre a empresa pública Águas do Tejo Atlântico e sua promoção de soluções em ETEs, com foco em águas residuais. Por meio de tecnologias que causem o menor impacto possível ao meio ambiente, são extraídos desse tratamento produtos como biogás, biossólidos, bioplásticos e biometano.
Para legitimar a importância da água residual, o CEO da companhia destacou o investimento em comunicação e marketing. “Tivemos que fazer um reposicionamento de marca para dizer aos consumidores que a água residual é segura. Assim nasceu a Água+, água reciclada com qualidade para reutilização não potável, como lavagem de ruas e climatização. Aliás, temos uma rede de supermercados que utiliza a água para climatizar suas instalações”, explicou.
E concluiu com uma reflexão: “Devemos lembrar que temos apenas uma água, a que usamos. Em Portugal, temos demandas importantes de uso desse bem e estudamos alternativas pertinentes para o seu reuso”.
BWW Connection
O primeiro bate-papo do intervalo deste último dia da Água do Brasil 2024 foi com Nelson de Campos Lima, diretor de Engenharia e Obras no Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) de São Paulo, diretor da ABES-SP e coordenador do Tema 7 “Financiamento no setor de saneamento”, ao lado de Luis Eduardo Grisotto (diretor da Cobrape, da ABES e coordenador CT Recursos Hídricos da seção). Na ocasião, Nelson comentou a temática abordada na sessão “ETEs sustentáveis: modelos inovadores para o futuro do financiamento”.
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