Professores dos alunos finalistas da edição 2020 comentam sobre a experiência de contribuir com projetos que podem fazer a diferença no mundo.
Por Clara Zaim
O Prêmio Jovem da Água de Estocolmo é uma iniciativa que além de celebrar o talento de estudantes inovadores de todo o mundo com ideias voltadas ao desenvolvimento sustentável, também reconhece os esforço de seus orientadores.
Uma peça fundamental para o sucesso dos trabalhos inscritos na premiação, principalmente dos finalistas, é a orientação que os alunos recebem dos professores. Eles participam do projeto desde a concepção das ideias, transmitindo seu conhecimento, lançando questionamentos e reflexões, o resultado final.
A etapa brasileira da edição 2020 do prêmio já tem seus cinco finalistas. E o vencedor será conhecido no dia 5 de junho (Dia Mundial do Meio Ambiente) durante uma transmissão online no programa ABES Conecta. O evento é gratuito e as inscrições podem ser feitas aqui.
Conheça os professores que contribuíram para que esses jovens tivessem seus trabalhos reconhecidos. A seguir, Adriana Marques, Alexandre de Jesus Barros, Tatiane Araújo de Jesus e Klauss Engelmann comentam sobre a experiência de orientar estes estudantes e seus projetos que podem fazer a diferença no mundo.
Adriana Marques é professora no Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de São Paulo- IFSP e no cursinho comunitário Pré-vestibular SIGN, e orientou o trabalho das jovens finalistas Kauany Melissa Neves da Silva e Gabriela Beatriz Lima Santos (“Tratamento de Água de Baixo custo para comunidades tradicionais”). Segundo ela, o projeto traz alegria e esperança.
“A nossa linha de pesquisa trabalha para as populações em vulnerabilidade e de baixa renda. Conseguir um prêmio dessa magnitude significa reforçar o nosso propósito de melhorar a qualidade de vida através da pesquisa acadêmica”, enfatiza Adriana. “Estarmos entre os finalistas nos possibilitou apoio para montarmos mais de 30 kits para entregarmos em uma comunidade quilombola que não tem acesso à água potável e luz elétrica”, afirma a orientadora, que também é economista com mestrado em Engenharia Civil e doutoranda em Engenharia Mecânica.
De acordo com Adriana, a orientação é um grande desafio, pois o grupo não conta com apoio financeiro, mas vem obtendo grandes conquistas como a aprovação de trabalhos em conferências e novas possibilidades para os alunos. “Estou imensamente feliz em saber que as meninas simples de uma cidade pequenininha estão podendo realizar mais um sonho e vencer várias barreiras. Os projetos estão sendo aprovados em congressos da área. A educação traz esperança e tem mudado a vida desses adolescentes”, conclui a professora.
Alexandre de Jesus Barros, Técnico em Química, Bacharel em Química, Mestre em Ciências e Doutor em Biologia Molecular, professor na Escola Técnica Estadual Irmã Agostina. Ele foi orientador dos estudantes Daniel Victor Santos Silva e Iago Martins Felipe, finalistas com o projeto “Atividade biofloculante da pectina extraída da casca da laranja -pera (Citrus sinensis (L.) Osbeck para tratamento de Efluentes líquidos”,
Para Barros, o prêmio valoriza o desenvolvimento de conhecimento científico dentro de ambientes escolares e aumenta a visibilidade ao trabalho desenvolvido por professores/alunos. “A premiação estimula não apenas o grupo ganhador, mas também todos os alunos que estudam nas instituições premiadas. Fazendo-os perceber que seus esforços nos laboratórios estão sendo notados e que suas descobertas podem ser aplicadas”, explica. “Orientar este grupo foi muito gratificante, pois são extremamente profissionais e comprometidos com o trabalho. Seguiram as instruções com rigor e obtiveram excelentes resultados”, destaca o professor.
Tatiane Araújo de Jesus é Tecnóloga em Obras Hidráulicas pela Fatec – SP, tem Doutorado de Direto em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, Pós-Doutorado em Química Ambiental pelo Centro de Química e Meio Ambiente do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), e é professora da Universidade Federal do ABC. Ela ressalta que o prêmio é de grande importância, em especial, para a aluna Letícia Ribeiro Bernardes Casado, finalista com o trabalho “Avaliação fitotoxicológica dos sedimentos de reservatório Rio Grande pertencente ao Complexo Billings, São Paulo -SP”, que ficará ainda mais motivada para continuar com os seus estudos referentes à água.
“O Prêmio Jovem da Água de Estocolmo é muito especial e certamente contará na difícil decisão que os jovens enfrentam de qual carreira seguir”, diz. “O saneamento, especialmente as questões relacionadas à água, precisa desses jovens! Em momento que a Ciência tem sido tão desvalorizada. Saber que todo o sacrifício que fazemos para realizar pesquisas está sendo reconhecido, é uma grande alegria”, frisa a professora
Tatiane explica que a estudante foi orientada por ela por meio de um Edital para alunos do Ensino Médio na UFABC. “O trabalho fez parte de um projeto maior no qual estava envolvida minha aluna de Mestrado, a Tecnóloga Thais Araujo Goya Peduto, que contribuiu ativamente com a co-orientação da Letícia. Inclusive, quem soube do prêmio e estimulou tanto a Letícia quanto a mim a participar do concurso foi a Thais, a quem muito agradeço!”, conta ela.
O professor e coordenador do curso Técnico em Química (modular) e do Curso Técnico em Química integrado ao Ensino Médio da Escola Técnica Estadual Irmã Agostina (ETEC Irmã Agostina), Klauss Engelmann, orientador dos alunos Marcos Vinícius Caetano e Victória Cavalcante Sousa, finalistas com o trabalho “Desenvolvimento de micropartículas magnéticas associadas à quitosana reticulada para recuperação de íons Ni2 + de efluentes industriais”.
Ele salienta que a premiação pode ser avaliado sob dois pontos de vista: “o primeiro, é em relação ao seu papel na ligação do jovem que produz tecnologia com a sociedade, que muitas vezes desconhece a ciência e sua importância no cotidiano. Esse ponto é fundamental que o anima como integrante da sociedade. O segundo ponto está ligado ao papel da Escola de Nível Médio e como pode colaborar com a tecnologia nacional”, sublinha.
“O prêmio”, prossegue Klauss Engelmann, “nos dá uma visibilidade enorme para mostrar o que nossos jovens estão de fato fazendo nas escolas e as soluções que estão sendo encontradas para os desafios do futuro. Como professor de uma ETEC (Escola Técnica Estadual), fico contente em ver os nossos resultados sendo reconhecidos em diversos prêmios e feiras”, declara o professor.
No entanto, para ele, “o grande desafio é melhorar a comunicação cientifica com a sociedade que ainda resiste e trazer a indústria para essa discussão, afinal, ainda é fraco o elo entre escola e indústria”, analisa. “Precisamos transformar promessas em parcerias e soluções efetivas”, enfatiza.
Engelmann, que é também Bacharel e Licenciado em Química pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mestre em Ciências dos Materiais pelo IPEN/USP (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares / Universidade de São Paulo) e Doutor em Biologia Molecular pela UNIFESP/EPM – Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, ainda ressalta o empenho dos alunos durante o processo.
“Fazer parte desse projeto foi fenomenal. Os alunos foram sensacionais! Em todo o processo, desde a concepção da ideia, passando pelos experimentos, análises e discussão dos resultados. São extremamente proativos e dinâmicos, resultando em uma formação de excelência. Tenho muito orgulho deles e de como eles amadureceram ao longo desse projeto”, enaltece o orientador. “Tenho obrigação de dizer que esse projeto conta com toda uma equipe de professores e comunidade escolar que, de forma direta ou indireta, contribuíram e muito para esses resultados. Existe uma base sólida, coesa e extremamente capacitada de professores além de uma equipe gestora comprometida que nos dá liberdade para desenvolver nossas ideias”, reconhece. “Por fim, fico muito feliz de poder contar com esses alunos e a comunidade da ETEC Irmã Agostina para fazer e promover a ciência!”, finaliza Klauss Engelmann, com entusiasmo.
A professora Joana D’Arc Félix de Sousa, da Etec Prof. Carmelino Corrêa Júnior (Franca/SP), foi a orientadora das estudantes Rafaela Marques Celestino e Tassiany Schatz da Silva. Sob o tema “Redução da toxicidade de efluentes de curtumes até às condições de água potável”, o trabalho finalista do SWJP, foi o primeiro contato das adolescentes com pesquisa científica.
“Tenho certeza que esse primeiro contato delas com a pesquisa terá repercussões futuras. Elas foram bem orientadas. Acredito que continuarão a fazer outras pesquisas e futuramente, quem sabe, poderão ser orientadoras de uma outra geração de estudantes”, afirma a orientadora.
Ela comenta sobre a importância da introdução da ciência desde cedo na vida dos estudantes. “Investir em educação científica desde a infância é a peça chave para a construção de uma sociedade democrática, economicamente produtiva, mais humana e sustentável”, defende. “A inclusão de alunos da educação básica em atividades de iniciação científica a partir de projetos de pesquisa é uma forma de desenvolver nestes algumas características fundamentais para sua vida profissional, seja ela voltada para a indústria, ou para a academia”, destaca Joana D’Arc Félix de Sousa, que é Doutora em Ciências Mestrado em Química, Bacharel em Química Tecnológica pela UNICAMP.
“A educação científica é um dos melhores caminhos para o empoderamento, formação dos jovens inovadores que contribuirão para a formação da sociedade e redução das desigualdades”, finaliza a professora.
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