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Sem Água não há futuro: um chamado à responsabilidade

_Por Marcel Sanches, presidente da ABES_

Neste Dia Mundial da Água, mais do que celebrar, é nosso dever refletir. A água, essência da vida, está sob ataque – como afirmou com precisão Loïc Fauchon, presidente do Conselho Mundial da Água, em sua recente presença na nossa sede em São Paulo.

Fauchon nos lembra que a água sofre hoje com os impactos diretos das mudanças climáticas, com o crescimento desordenado das cidades e com uma gestão que, em muitos casos, ainda ignora os alertas da ciência e da realidade dos mais vulneráveis. A água não é uma causa qualquer. É a base da vida.

Vivemos os efeitos das “divagações climáticas”, como o próprio Fauchon preferiu chamar, com secas inéditas na Amazônia e enchentes devastadoras no Sul. Vivemos, também, os desafios de implementar, de fato, o novo marco legal do saneamento, instituído em 2020, que tem como objetivo a universalização dos serviços até 2033.

Como presidente da ABES, tenho acompanhado de perto os esforços de Companhias, Governos Estaduais e Municipais, e vejo avanços importantes. Mas eles ainda são desiguais, e é justamente essa desigualdade que precisa ser enfrentada com políticas públicas eficazes, regulação presente e capacitada, diversificação das fontes de financiamento, mais inovação e tecnologia.

Temos exemplos de soluções tecnológicas como dessalinização da água do mar e a água de reuso, esta que é, inclusive, tema recorrente nos fóruns internacionais e já é realidade em países como Cingapura, EUA e Espanha. E por que ainda não é amplamente utilizada no Brasil? Seria porque nossa legislação, em muitos casos, ainda não se preparou para essa transição? Ou simplesmente um “pré-conceito” de que a água de reuso possa não ter qualidade e segurança para ser considerada para uso, seja direto ou indireto?

A ABES defende que é preciso revisar e modernizar as normativas, permitir que soluções como reuso considerando os múltiplos usos da água possam se expandir. Isso exige não só uma avaliação legislativa e regulatória para adoção de novas fontes de recursos hídricos, mas também uma sensibilização política para considerar outras alternativas nos cenários de mudanças climáticas dos quais o Brasil não está imune.

O setor de saneamento precisa caminhar junto com políticas habitacionais, com urbanismo sustentável e com sistemas de macro e microdrenagem em nossas cidades. Não é possível pensar em segurança hídrica sem enfrentar as realidades dos territórios vulneráveis, onde as pessoas vivem às margens de córregos por falta de opção, não por escolha.

Sobretudo, precisamos entender nossas limitações e buscar alternativas para avançar, compreendendo que cada gota de água desperdiçada, cada esgoto não tratado, tem impacto na saúde pública e no bem-estar de todos nós. Nesse sentido, o fomento à novas concessões, PPPs, iniciativas como a redução de perdas, o incentivo à eficiência no uso da água, o fortalecimento e capacitação das agências reguladoras são essenciais para mudarmos esse quadro. Investimentos gigantescos são necessários no nosso setor, que somente serão viabilizados se estivermos organizados e com um planejamento robusto para tanto.

O Dia Mundial da Água, em 2025, deve ser um marco de compromisso. Um compromisso com o futuro, com os mais pobres e com a construção de cidades mais resilientes. O direito à água precisa estar no centro da política, da legislação e da ação.

Neste contexto, convido todos os profissionais, gestores públicos, acadêmicos, empresas e organizações sociais a estarem conosco no 33º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental organizado pela ABES, que será realizado de 25 a 28 de maio, em Brasília no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Será um grande momento para debatermos juntos os caminhos para uma gestão mais eficiente e inclusiva da água no Brasil.

Esta reflexão sobre o Dia Mundial da Água deve ser uma chamada à ação para todos nós. Precisamos unir esforços para enfrentar as desigualdades, modernizar nossas regulamentações e adotar soluções inovadoras que garantam o acesso universal e sustentável à água. O compromisso com a água é, acima de tudo, um compromisso com a vida e com as futuras gerações. A ABES convida a todos para que possamos, juntos, construir um futuro em que a água seja tratada com a importância e o respeito que merece, assegurando a qualidade de vida para todos os cidadãos.