Possibilidades de investimentos por meio de empréstimos do Banco Mundial junto aos Estados, a nova realidade rural de Pernambuco, após a adoção do modelo de gestão compartilhada e o Sisar do Ceará, o maior case de sucesso de gestão compartilhada no mundo foram destaque nas apresentações.
“O acesso à água de qualidade nas zonas rurais é essencial para garantir um futuro melhor para as gerações vindouras”, frisou António Albuquerque, presidente do Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura da Universidade da Beira Interior (UBI), de Portugal, na abertura do painel sobre saneamento rural realizado nesta quinta-feira, 29 de agosto, no Silubesa – Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental.
Em sua 21ª edição, o evento realizado pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, em parceria com a Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos – APRH e a Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental – APESB, acontece até sexta-feira (30), em Recife, e em formato digital. Esta e todas as outras palestras do Silubesa 2024 ficarão disponíveis por 90 dias na plataforma do evento no menu Reveja. Confira o álbum de fotos.
Artur Paiva Coutinho, secretário executivo de Saneamento da Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco, apresentou a evolução do saneamento no Estado que tem a menor disponibilidade hídrica do país, a maior dependência dos carros-pipa e o menor percentual de lares que recebem água na torneira todos os dias.
O executivo trouxe diversos dados do cenário atual do abastecimento de água e esgotamento, mas não esqueceu o lado humano: “Conheci um senhor que teve a cabeça afundada de tanto carregar lata d’água por anos. Então quando você vê a felicidade dessa pessoa tendo a dignidade de ter um banho de chuveiro, de ter água tratada, você fica abismado, porque estamos numa bolha tão grande, na nossa água quentinha em casa que percebemos isso. Mas temos dois milhões de pernambucanos e milhões de brasileiros que não têm nenhuma perspectiva de ter essa dignidade. É algo sério, é a promoção da equidade, da igualdade e da redução da desigualdade social do nosso país”.
Helder Cortez, especialista em saneamento rural da Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece), apresentou o Sisar, o maior case de sucesso no mundo de gestão compartilhada em saneamento. “Há 30 anos, meu estado está se endividando para fazer o saneamento rural”, frisou, apresentando ainda números de empréstimos com o Banco Mundial e outros bancos internacionais além de uma doação de sete milhões de euros da Comunidade Européia.
Helder apresentou o case de Guaraciaba do Norte, com população de 42 mil habitantes, o primeiro município do estado do Ceará universalizado com abastecimento de água. Na localidade, 34% do abastecimento é realizado pela Cagece e 66% pelo Sisar. E, para finalizar sua palestra, ele ainda fez uma provocação: “A humanidade não tem dinheiro para extrair água em zonas áridas, mas tem dinheiro para procurar água em Marte. A pergunta é: existe vida inteligente na Terra?”.
O professor Paulo Scalize, da Universidade Federal de Goiás (UFG), abordou os principais resultados do Projeto SanRural, realizado em Goiás, fruto de uma parceria da UFG e da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). “É muito importante destacar a participação na Funasa dentro do saneamento rural”, garantiu.
O projeto pesquisou as condições de saúde e de segurança do saneamento em 115 comunidades rurais e tradicionais em 43 municípios de Goiás: 44 quilombolas, 62 assentamentos e nove ribeirinhas. A pesquisa foi desenvolvida de forma articulada entre gestores municipais, profissionais das secretarias municipais, líderes locais e membros das comunidades. “Foram quase 250 mil quilômetros rodados no estado de Goiás durante mais de 6 anos”, explicou.
Entusiasmo marca a troca de experiências
O secretário executivo de Saneamento da Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco, Artur Paiva Coutinho, destacou o grande nível, tanto técnico quanto acadêmico do evento: “Foi uma alegria grande repartir essa mesa de saneamento rural vendo a perspectiva do Ceará, mostrando como o modelo de autogestão, particularmente do Sisar, vem evoluindo com grande velocidade em Pernambuco, vendo a experiência de Portugal, vendo a experiência de Goiás. Acredito que esse mix de olhares fortalece bastante o surgimento de novas ideias, novas maneiras de pensar e contribui com toda equipe técnica, acadêmica, todo o público técnico acadêmico que vem aqui prestigiando esse belíssimo evento”.
Mônica Bicalho, coordenadora da Câmara Temática de Saneamento Rural da ABES, foi a coordenadora deste painel. A especialista confessou que é uma apaixonada pelo tema e que atua neste setor há cerca de 30 anos, quando conheceu o Sisar do Nordeste: “Estar aqui com os representantes de Portugal, para nós, foi principalmente interessante porque lá eles não têm isso, é um outro esquema, é um outro momento. Então eles ficaram encantados com a nossa experiência e, se Deus quiser, nós estaremos lá daqui a dois anos levando o nosso trabalho para fora do Brasil”, revelou antecipando o próximo Silubesa, que acontecerá em Portugal.
O cenário português atual foi abordado por Antonio Albuquerque, que além de acadêmico é vice-presidente da APESB. O palestrante discorreu sobre a realidade das comunidades rurais de Portugal, das pessoas que vão viver nestas localidades e adotam práticas sustentáveis em relação à gestão de água e de resíduos: “Temos as novas comunidades que estão a ocupar o espaço que as pessoas foram deixando, ou seja, as nossas aldeias, que haviam ficado vazias com a migração de pessoas para áreas urbanas, estão começando a ser ocupadas por jovens com instrução ou por pessoas aposentadas, muitos estrangeiros do norte da Europa, que vão viver em Portugal e que buscam especialmente soluções baseadas na natureza”.
“Estava com saudade desses eventos e vi o quanto que não só eles gostaram da nossa apresentação como eu gostei das possibilidades de oportunidades de aumentarmos o conhecimento, a transferência de conhecimento do rural de Portugal com o rural do Brasil. Isso, para mim, foi um ganho extraordinário”, declarou Helder Cortez.
Programas Produtores de Água: Desafios e soluções frente à sustentabilidade e as Mudanças Climáticas
O painel “Programas Produtores de Água: desafios e soluções frente à sustentabilidade e as mudanças climáticas” encerrou o segundo dia do 21º Silubesa. Foram apresentadas experiências, desafios e perspectivas destes programas, especialmente daqueles que têm a participação das companhias de saneamento, mostrando a relação do saneamento e da conservação e proteção de mananciais, sob o olhar do Plano Nacional de Gestão Integrada e Recursos Hídricos e do Plano Nacional de Segurança Hídrica.
Participaram da discussão: Consuelo Franco Marra,da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA); Vladimir de Alcântara Puntel Ferreira, da Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (CAESB); e Marcelo Luis Kronbauer, da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC- RS). A coordenação do debate ficou por conta de Suzan Lannes de Andrade, coordenadora da Câmara Temática de Recursos Hídricos da ABES e a moderação foi realizada por Carlo Renan Brites, coordenador adjunto da Câmara Temática de Recursos Hídricos da ABES.