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6º Seminário Nacional de Perdas: leia entrevista com o palestrante Mário Augusto Bággio, sócio gerente da WDB, parceira da UNIABES 

Por Cristiane Pinto

O 6º Seminário Nacional Gestão de Perdas de Água e Eficiência Energética começa nesta terça-feira, dia 15 de outubro, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O evento reunirá especialistas de diversas áreas do saneamento do Brasil para compartilhar conhecimento e experiências práticas para o enfrentamento das perdas de água e a busca de eficiência energética nos sistemas de abastecimento (veja aqui a programação).

Mário Augusto Bággio, engenheiro civil e sócio gerente da Water DB Soluções em Saneamento, parceria da UNIABES, vai participar do Painel 4 – Perdas Reais, ao lado de Jairo Tardelli Filho. O especialista abordará o tema:”Implementação do “Road Map ee Formulação e Execução de Estratégia de Controle de Perdas Reais “.

Acompanhe a entrevista com o palestrante.

ABES Notícias – Por que os índices de perda de água são tão altos no Brasil e por qual razão não se consegue avançar no sentido de combater as perdas?

Mário Augusto Bággio – Gerir perdas, batendo metas, depende da conjugação de três fundamentos básicos: 1) conhecimento técnico; 2) métodos; 3) e liderança. Nos últimos dois fundamentos, estão grande parte das causas de termos um nível de perdas tão alto e constante, sem quaisquer avanços relevantes. Significa dizer que, enquanto não tivermos líderes indignados, conscientes de suas responsabilidades como dirigentes, não observaremos avanços importantes que permitam debelar o mal das perdas, trazendo-as a patamares similares aos de países preocupados com o desenvolvimento sustentável. O outro aspecto é a absoluta falta de métodos, pois sabemos formular programas, projetos e planos, mas não sabemos implementá-los. Como agravante, nossos líderes pecam na indefinição de metas estratégicas e de caminhos para alcançá-las pela total ausência de controle e de padronização de processos. Ou seja, o setor de saneamento brasileiro tem conhecimento técnico sobre o tema “perdas”, mas suas lideranças pecam na formulação e, principalmente, na execução de estratégia para o controle de perdas.

ABES Notícias – Além do desperdício de água, quais reflexos as perdas ainda trazem?

Mário Augusto Bággio– Perdas e desperdício são coisas distintas. Quando falamos em desperdício, classicamente, nos referimos a questões intradomiciliares ou à forma como os consumidores se utilizam desse escasso recurso, chamado água. A certeza e a convergência das duas definições é a de que as perdas, somadas ao desperdício domiciliar, geram uma resultante danosa para a sociedade, ao meio ambiente e às finanças do setor de saneamento, destruindo, assim, o valor a todas as partes interessadas.

ABES Notícias – Qual a importância do evento e como a discussão sobre o tema desta edição “A Gestão de Perda de Água e Eficiência Energética” pode contribuir para a redução de desperdício de água no Brasil?

Mário Augusto Bággio – Reduzir perdas reduz o consumo de energia elétrica. Há uma relação umbilical entre a eficiência hídrica e a energética. O 6º seminário se propõe a tratar dessas duas questões de maneira integrada, visando sua harmonização em prol da eficiência, ou seja, se propõe a debater não somente as perdas e o desperdício de maneira isolada, mas de maneira associada, em que as diversas ciências devem ser tratadas de maneira complementar: engenharia dissociada da gestão não é sustentável. Nosso setor, eminentemente de engenharia, tem recebido um debate maior, notadamente a partir do Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento, que traz práticas inovadoras de gestão aliadas à engenharia que, por tanto tempo, navegou isolada, sem resultados substanciais. Nossos técnicos sabem fazer diagnósticos, tipificar as perdas, montar programas, projetos e planos, entretanto, eles esbarram na execução desses planos, em decorrência de lideranças nem sempre preparadas para a definição de políticas, diretrizes estratégicas, alocação de recursos para Capex e Opex, trade off de projetos. Enfim, são levados a agir por impulso em um movimento técnico de controle de perdas, sem a importante participação do corpo gerencial. É a ação nos efeitos, sem estratégia definida, focada nas causas das perdas.

ABES Notícias – Qual é a sua visão sobre a situação do Brasil em relação a perdas de água?

Mário Augusto Bággio – Um aspecto importante é a necessidade premente de entendermos perdas como efeito repleto de causas. Enquanto não agirmos nas causas, experimentaremos resultados pífios, comprometendo a qualidade do abastecimento de milhares de cidades brasileiras. É o culto à ineficiência, tema central do 6º seminário: mais que reduzir perdas, precisamos ser eficientes.

ABES Notícias – E qual é o papel dos indicadores no cenário da gestão de perdas no país?

Mário Augusto Bággio– A começar pelo jeito de medir as perdas (métrica), ainda não temos claro um dicionário de dados e indicadores que nos permita avaliar nossa performance. A meu ver, o Brasil deveria caminhar na direção do indicador NRW (non revenue water), e não na de perda, haja vista o viés de faturamento que o primeiro foca, diferentemente das perdas, em que sempre tentamos criar mecanismos de glosas notadamente considerando altas montas de CANF (consumo autorizado não faturado), avançando-se os indicadores de perdas reais e aparentes ILI e ALI, em vez de indicadores de perdas totais. Quando pensamos nas métricas ILI e ALI, invariavelmente teremos que pensar em uma nova unidade de planejamento e controle: os setores de abastecimento, as zonas de pressão e os DMC’s (distritos de medição e controle).

ABES Notícias – O senhor poderia comentar, brevemente, o tema da sua palestra “Implementação do road map de formulação e execução de estratégia de controle de perdas reais”?

Mário Augusto Bággio – Os vários operadores brasileiros, cada qual com a sua cultura organizacional, controlam as perdas de sua maneira, nem sempre de modo sistêmico e metodológico. Quando falamos em metodologia, invariavelmente, falamos do ciclo do PDCA (ciclos de Deming), método criado para solucionar problema, inclusive, de perdas. Baseado nesse ciclo, e após mais de 40 anos vivenciando o tema “controle de perdas”, conseguimos criar um mapa do caminho (road map), para direcionar uma estratégia efetiva com vistas a batermos metas de redução de perdas. Buscamos experiências na Sabesp, na Sanepar, na Cesan, na Inguá Saneamento, na Embasa, na BRK, no DMAE de Poços de Caldas, na Comusa de Novo Hamburgo, enfim, em muitos players do setor de saneamento, culminando em um caminho que se inicia no momento em que as lideranças elegem as perdas como um problema estratégico, inserindo-as em seus BSC’s, e depois as transformam em politicas, programas e projetos, cumprindo o primeiro grande papel das lideranças, que é o planejamento. Já o segundo papel, tão importante quanto o primeiro, mas de extrema complexidade, é a execução do que foi planejado. Aqui nos perdermos, pois quando alocamos recursos, esses são redirecionados indevidamente para outros projetos. O combate às perdas se faz de maneira empírica, sempre achando que precisamos ir a campo, sem estudos e projetos prévios, culminando em ações nem sempre ditadas por anamneses operacionais bem elaboradas. Não há um componente educativo para toda força de trabalho. Percebemos que os “chãos de fábrica” estão completamente alienados, não porque querem, mas por serem constantemente preteridos pelas suas lideranças que, em sua ampla maioria, ainda crê que os operários não têm muito a colaborar. Como dizia Cora Coralina, “aprendemos com nossos mestres, nossos livros e com o humildes”. O road map conclui sua função, mostrando o controle de resultados, quando lideres e liderados discutem a mesma eficácia, eficiência e efetividade de suas ações e aprendem a seguir juntos, à medida que vão construindo um caminho virtuoso, o rumo à sustentabilidade. Essa é a essência do road map, o caminho organizado, inovador e, principalmente, gerador de valor.

 

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