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Seminário Internacional de Mudanças Climáticas: especialistas destacam importância do aprendizado com o passado para construir um futuro melhor

No painel de estreia do evento promovido pela ABES (Diretoria Nacional e Seção SP), palestrantes do Brasil e Portugal falaram sobre os riscos das mudanças climáticas e dos fenômenos extremos, parâmetros que alertam para a influência humana no aumento do aquecimento global e o compromisso necessário de toda a sociedade para ajudar na redução das emissões. 

O Seminário Internacional de Mudanças Climáticas, realizado pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Diretoria Nacional e a ABES Seção São Paulo, por meio das Câmaras Temáticas de Meio Ambiente e de Gestão de Recursos Hídricos, e das Câmaras Técnicas da ABES-SP de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e de Recursos Hídricos, abriu seu primeiro dia, 6 de dezembro, com apresentações que resgataram os principais acontecimentos que levaram à crise climática atual que estamos vivendo. Destacaram seus desafios e consequências para toda a sociedade e um panorama de ações das iniciativas pública e privada que estão sendo implementadas para reduzir as emissões e atender as metas globais anunciadas na COP26, que aconteceu em novembro, em Glasgow, na Escócia.

A abertura do seminário foi realizada por Alceu Guérios Bittencourt, presidente nacional da ABES, Luiz Pladevall, presidente da ABES-SP, e Luis Eduardo Grisotto, diretor e coordenador da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos da ABES-SP. O evento é realizado online em plataforma digital exclusiva e interativa.

Na ocasião, Luiz Pladevall, deu as boas-vindas aos participantes e destacou a perspectiva de sucesso do evento, no formato virtual, com mais de 350 inscritos. “O seminário foi elaborado com temas e palestrantes renomados no assunto, dividido em seis painéis, para apresentação dos aspectos relevantes das mudanças climáticas e informações que indiquem caminhos mais seguros e sustentáveis para o enfrentamento das crises climáticas e hídricas e os impactos para o setor de saneamento ambiental”, pontuou.

Em suas considerações na abertura, o presidente nacional da ABES, Alceu Guérios Bitencourt, destacou a satisfação em realizar o evento, em um ano difícil para todos, mas a ABES teve a felicidade de conseguir construir uma agenda de eventos muito intensa, no qual se inclui o Seminário Internacional de Mudanças Climáticas, além do evento de encerramento do PNQS, que acontece nesta mesma semana. “Um ano com tantas dificuldades, conseguimos realizar muita coisa com o esforço de toda a equipe”, destacou.

Sobre a questão das mudanças climáticas, Alceu Bitencourt, ressaltou que a ABES tem uma amplitude temática, portanto, tratar do tema está em sintonia com as ações que a entidade lidera nas áreas de saneamento, resíduos sólidos, manejo de águas pluviais, saúde pública, entre outros. “Alinhar nossos trabalhos com a questão ambiental já faz parte das nossas atividades há muitas décadas. Por isso, é com naturalidade que conduzimos esse evento, diante da importância que o assunto adquiriu para nós, profissionais do segmento de saneamento, e para a sociedade em geral”, observou.

Luis Eduardo Grisotto detalhou a programação destacando a importância do evento para o meio ambiente, o saneamento e o futuro do planeta. “As mudanças climáticas, as crises hídricas, os eventos extremos recentes, têm afetado nossas vidas em vários aspectos. Hoje, estamos tratando de mudanças reais, concretas e que transcendem fronteiras, que estão ficando cada vez mais frequentes, intensas e criando situações catastróficas em muitos lugares do mundo”, lembrou.

Por essa razão, Grisotto destacou que a ABES, sendo uma entidade plural que abrange diversos setores e profissionais, viu-se motivada a tratar essa questão de forma precisa e transparente neste seminário, que reúne especialistas do mundo inteiro com a intenção de qualificar o debate e trazê-lo ao patamar de excelência técnica. “Por meio dessas palestras, nosso objetivo é inspirar os gestores públicos e tomadores de decisão a caminhar por trilhas mais seguras e sustentáveis no enfrentamento dessas crises”, declarou.

A programação do primeiro dia, estruturada com abordagens mais amplas sobre as questões climáticas, trouxe um panorama sobre a evolução das mudanças climáticas e eventos extremos no Brasil e no mundo, com apresentação de vários aspectos relevantes em torno das causas, problemas em alguns setores econômicos e também apontando os desafios para o equilíbrio climático e ambiental. Desta forma, o primeiro painel, coordenado por Alceu Guérios Bittencourt, presidente Nacional da ABES, discutiu o tema “Mudanças Climáticas e Eventos Extremos no Mundo e no Brasil”.

A palestra “Panorama dos Eventos Extremos no Mundo”, ministrada por Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), de Portugal, deu um parecer sobre os impactos das emissões de CO2 no âmbito global, destacando o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera e os reflexos nos recursos hídricos. “O desafio que temos é atingir o máximo nas emissões e decrescer de forma acentuada, uma vez que pretendemos não ultrapassar os limites em relação ao que foi acordado em Paris, de 1.5ºC, e já estamos acima da temperatura pré-industrial. Portanto, temos um desafio significativo a alcançar na grande escala global”, ressaltou com informações sobre as metas estipuladas em Glasgow, na COP26.

O especialista apresentou um descritivo de ações que estão sendo implementadas em Portugal e na Europa, além de estratégias e tecnologias que compreendem o desenvolvimento de projetos globais para as mudanças climáticas.

Na segunda palestra sobre os “Eventos Extremos no Brasil”, Jose A. Marengo, cientista Sênior Nível III e coordenador geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta Antecipado de Desastres Naturais (Cemaden), apresentou uma visão geral sobre o aquecimento global na América Latina e Caribe e mostrou exemplos de desastres naturais extremos como consequência desse quadro e reflexos na sociedade em termos econômicos, ambientais e sociais. “Desastres climáticos no Brasil mataram 1.734 milhão de pessoas e custaram mais de R$ 200 bilhões em 10 anos”, alertou.

Com exemplos de São Paulo, Amazonas e região Sul do Brasil, o cientista destacou que a avaliação dos riscos extremos precisa de dados diários e mostrou informações compiladas na Região Metropolitana de São Paulo nos últimos 20 anos, entre outros locais, como Minas Gerais e Espírito Santo. “De acordo com o IPCC, já foi estabelecido que as atividades humanas estão afetando o clima, e isso faz com que eventos extremos, tais como ondas de calor, chuvas intensas e secas sejam mais frequentes e severas. Isso aumenta o risco de crises hídricas, incêndios e desastres naturais e mais impactos setoriais e afetando segurança hídrica, alimentar, energia, saúde e social”, observou.

Ele falou também sobre os acontecimentos extremos e suas consequências em regiões como o Nordeste e a Amazônia, lembrando que a atribuição das causas muitas vezes é a influência humana com ocupações irregulares e falta de planejamento urbano.

Em suas considerações finais, o especialista destacou que com a ideia de diminuir o aquecimento global à 1,5ºC o risco pode ser menor e evitaria inúmeras mudanças adicionais em extremos em comparação com 2º C, mas seria afetado por mudanças adicionais e eventos extremos sem precedentes em comparação com o quadro atual. “Vale ressaltar a interdisciplinaridade das mudanças climáticas, que são reconhecidas como um dos principais desafios da humanidade neste século XXI e a cada dia assume maior importância e necessita de um trabalho integrado entre as diversas áreas de conhecimento, tanto das ciências naturais como das ciências humanas”, explicou.

O tema “A importância da Amazônia no cenário de mudanças climáticas”, apresentado por Carlos Nobre, presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, fechou o primeiro painel. O pesquisador discorreu sobre os sistemas hidrológicos que compõem a região amazônica e a importância de buscar soluções para manter a floresta diante do valor dos serviços ecossistêmicos e toda a biodiversidade que ela oferece para o mundo. “A Amazônia está próxima de um não retorno. O modelo econômico atual falhou em valorizar sua natureza, em termos globais”, atentou.

O especialista destacou que a “Floresta Amazônica existe porque a floresta existe”, mencionando dados de uma avaliação científica sobre a floresta, que foi apresentada na COP26, e que apresenta 10 capítulos de um modelo sustentável para a região com base nos serviços ecossistêmicos e os rios aéreos que alimentam outras regiões. “A floresta não perturbada já chegou a remover até 2 milhões de toneladas de dióxido de carbono e hoje já não apresenta essa dinâmica. Mas, sua evolução em milhões de anos a transformou em um sistema único que colabora muito para a sustentabilidade de forma ampliada”, ressaltou.

Carlos Nobre deu um parecer sobre os principais estágios de degradação e que afetam o desenvolvimento sustentável da Amazônia, como os reflexos que a criação de gado trouxe para a região; os pontos negativos com as construções de estradas que são grandes vetores do desmatamento, o fogo, entre outros fatores que contribuem para o rápido desmatamento da floresta. “O modelo desenvolvimentista dos anos 70 trouxe muitos malefícios ambientais. Dos cinco maiores municípios que emitem Gases de Efeito Estufa no Brasil, quatro são amazônicos. Além disso, o tipping point de savanização da Amazônia já foi ativado e a relação causal que leva à degradação pode afetar outros ecossistemas”, afirmou.

Entre as soluções para frear os reflexos da degradação da Amazônia nas mudanças climáticas, Nobre alerta que é urgente zerar seu desmatamento com um novo paradigma de desenvolvimento preservando a floresta. “O Acordo de Paris não será cumprido se houver a savanização da Amazônia”, alertou. Para ele, o futuro do Brasil frente à questão da Amazônia está em olhar para frente. “O caminho é nos tornarmos um país líder em uma nova Bioeconomia. Não existe esse modelo em país nenhum, nós temos que criar. Esse é o grande desafio dos países amazônicos, em especial o Brasil, de criar um modelo inovador de desenvolvimento sustentável com base na Bioeconomia da floresta em pé”, concluiu.

No encerramento, Alceu Guérios Bittencourt enalteceu as apresentações, que de forma excelente mostraram um raio X das mudanças climáticas e suas consequências globais, o que traz preocupação e, ao mesmo tempo, mostra que há soluções para superarmos os desafios.

O primeiro dia do Seminário Internacional de Mudanças Climáticas contou ainda com os painéis “As mudanças climáticas tendem a se agravar?” e “Impactos setoriais das mudanças climáticas e crises hídricas”.

Vale ressaltar que este é um evento NEUTRO EM CARBONO, ou seja, as emissões, que são poucas por ser um evento online, são quantificadas. A ABES cuidou de agir e realizar a compensação ambiental, por meio do apoio a projetos ambientais. O evento ficará disponível por três meses na platafoma para os incritos. Para mais informações, clique aqui.

16 Comentários em Seminário Internacional de Mudanças Climáticas: especialistas destacam importância do aprendizado com o passado para construir um futuro melhor

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