
“O Silubesa contribuirá para responder aos desafios que os nossos países enfrentam”, Professor Doutor Paulo J. Ramisio, presidente da Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental
Por Ana Paula Rogers
Com o tema “Soluções para um Melhor Saneamento Ambiental”, o XVII Silubesa – Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, que será realizado de 06 a 08 de junho, em Florianópolis, Santa Catarina, pela ABES, pela Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental – APESB e pela Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos – APRH, consolida esta parceria de sucesso entre Brasil e Portugal na promoção de um debate propositivo. “Os problemas de Portugal e do Brasil que têm sido debatidos nos vários Silubesa continuam atuais, ou porque ainda não foram totalmente resolvidos, ou porque geraram novas preocupações na comunidade técnica e científica”, frisa o Professor Doutor Paulo J. Ramisio, presidente da Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental. Leia a seguir a entrevista:
ABES Notícias – O simpósio acontecerá num momento interessante do Brasil, em que regiões como a Sudeste, onde encontra-se o estado de São Paulo, acabaram de superar uma fase de crise de escassez hídrica, que deixou muitas lições aos brasileiros sobre consciência de consumo de água e também lições de gestão. Neste contexto, como o senhor vê a troca de informações entre especialistas portugueses e brasileiros no simpósio?
Paulo Ramísio – A troca de experiências técnicas e científicas entre especialistas portugueses e brasileiros é sempre útil em qualquer contexto e em qualquer área da engenharia. No caso concreto de problemas de escassez hídrica, embora com outra dimensão, em Portugal esse fenómeno também já se verificou. Daí que seja bom saber que medidas tomaram ambas as partes e de que forma foram bem sucedidas. Em Portugal não há Planos de Gestão de Secas, uma área que deve ser desenvolvida com caráter prioritário, quer pela magnitude das consequências, pelo fato de não poder ser resolvida num pequeno período de tempo e pelo grande impacto que tem na nossa vida.
ABES Notícias- Segundo reportagens de 2015, as perdas de água na rede de distribuição em Portugal atingiam uma média de 30 por cento da água captada a nível nacional. No Brasil, este é um dos temais mais em evidência, especialmente com a ocorrência da crise de escassez hídrica. Como Portugal está atuando na gestão de perdas? Há iniciativas que podem ser adequadas ao cenário brasileiro? Em relação à população, como são as campanhas para evitar o desperdício?
Paulo Ramísio – A opção estratégica central da política de ambiente em Portugal assenta na gestão eficiente de recursos, sendo o Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA) uma peça fundamental.
O Plano está centrado na redução das perdas de água e na otimização do uso da água, sendo cada vez mais um instrumento de gestão imprescindível para a proteção dos Recursos Hídricos, principalmente num País onde a variabilidade climática gera frequentes situações de stress hídrico.
O PNUEA é também um instrumento integrador de políticas, dadas as ligações entre a energia, a água, a indústria e a agricultura, sendo de salientar os aspectos relacionados com a eficiência energética e com a eficiência hídrica, com resultados não só ao nível do ambiente mas também da economia. Investir na criação de uma consciência nacional da importância da água e na mudança de uma cultura do desperdício e indiferença, por uma cultura de respeito, é um dos objectivos principais do PNUEA.
Em Portugal a gestão das perdas tem sido uma das principais ações das entidades gestoras, que têm atuado em vários níveis: aplicação de sistemas de detecção (aqui é detecção?) rápida; controle das pressões na rede; controle dos consumos indevidos e anormais que podem evidenciar perdas; gestão online da rede e de utilizadores; telemetria; substituição de sistemas antigos etc.
Sem dúvida que muitas destas medidas técnicas, senão quase todas, podem ser aplicadas a qualquer sistema, pois não só se utiliza e desperdiça menos água, como os custos para a entidade gestora e para os consumidores são menores, com as inerentes vantagens ambientais associadas.
Existem algumas campanhas para evitar o desperdício de água, muitas delas efectuadas pelas entidades gestoras (que possuem essa informação nos seus sites). As escolas também têm feito algumas campanhas nesse sentido, o que é positivo pela sensibilização que é dada aos mais jovens.
Contudo, para se atingir uma maior abrangência, será necessário utilizar meios de informação mais alargados como a televisão ou os jornais, pois só assim se atinge um maior número de pessoas.
ABES Notícias – Como foi a implantação do reúso de água em Portugal e a aceitação pela sociedade? A que usos se destina a água de reúso no país?
Paulo Ramísio – A comunidade técnica e científica tem demonstrado um grande interesse nos temas relacionados com o aproveitamento de água, quer para utilização direta, como para recarga de aquíferos. Estes conhecimentos têm servido para suportar a implementação de sistemas de reutilização de águas residuais tratadas para usos menos exigentes, como a rega. Em Portugal ainda são poucos os sistemas onde é efetuada a reutilização. Todavia, a crescente pressão sobre as massas de água e a ocorrência de períodos de seca prolongada vêm reforçar a necessidade de procurar alternativas ambientalmente mais adequadas e financeiramente mais atrativas. Em 2014 apenas 34 entidades gestoras (17 em alta e 17 em baixa), reutilizaram água, correspondendo a 7,6 milhões de metros cúbicos. A maior parte desta água residual tratada foi utilizada pelas entidades gestoras para uso próprio e apenas 15 % foi fornecida a outras entidades para serem reutilizadas.
ABES Notícias – No Brasil, temos cerca de 80% de nossa população total atendida com água de boa qualidade. Porém, apenas 50% dos brasileiros têm acesso à rede coletora de esgotos e somente 37% dos resíduos domésticos gerados vão para o devido tratamento. Outro desafio é a adequada destinação dos resíduos sólidos gerados nas áreas urbana e rural. E são desafios para um país de dimensões continentais. Há experiências bem sucedidas de Portugal que poderiam servir para o Brasil?
Paulo Ramísio – Portugal é reconhecido internacionalmente como um exemplo nesta matéria. Em poucos anos foi possível implementar modernos e eficazes sistemas de abastecimento de água e a drenagem e tratamento de águas residuais. Também no setor dos resíduos, as antigas lixeiras deram lugar a eficientes sistemas de gestão e valorização dos resíduos, com a preocupação primária na sua valorização e não no seu destino final.
Os últimos números indicam que em áreas urbanas a acessibilidade ao serviço público de abastecimento de água potável é de 100%, descendo para 92% em zonas rurais. Estas redes são objeto de análises regulares de qualidade. No ano de 2014, 99,5 % das análises de qualidade obrigatórias foram realizadas, indicando que aproximadamente 98,5% desta água é segura.
A acessibilidade física ao saneamento de águas residuais, também em 2014, foi de 97% e 79%, para as zonas urbanas e rurais, respetivamente. A recolha de resíduos sólidos apresenta uma abrangência de 98% em zonas urbanas e 89% em zonas rurais, valores que descem para 94% e 61% quando consideramos a acessibilidade a sistemas de recolha seletiva.
O percurso, nem sempre linear, que permitiu chegar a estes indicadores, e à implementação de diferentes modelos de gestão, em condições e contextos muito diferentes, pode claramente servir de apoio à definição de soluções noutras realidades, como é o caso do Brasil.
ABES Notícias – Em relação às boas práticas existentes no Brasil, estas têm chamado atenção dos especialistas portugueses?
Paulo Ramísio – Ao longo dos anos os SILUBESA têm demonstrado ser um vetor importante na disseminação de boas práticas especificamente entre Portugal e o Brasil. No entanto, hoje as boas praticas são disseminadas à escala global. Também aqui, mesmo em congressos internacionais com uma representação de muitos e diferentes países, acaba sempre por haver um contato privilegiado entre os especialistas de Portugal e do Brasil, que se encontram reunidos por esta nossa língua comum. A presença de especialistas do Brasil em Portugal, também tem servido para disseminar as boas práticas que têm sido obtidas no Brasil.
ABES Notícias – Há um interesse crescente das novas gerações pelas questões ambientais. Como o senhor vê a preparação de novos profissionais das áreas de meio ambiente nas universidades portuguesas e brasileiras?
Paulo Ramísio – Sendo a área do meio ambiente transversal e multidisciplinar a formação de novos profissionais tem-se ajustado à evolução natural do conhecimento, aumentando por isso também o seu contato com realidades objetivas. Havendo um interesse crescente das novas gerações pelas questões ambientais, pode ser mais fácil adotar uma atitude proativa nesta área, mas que em alguns casos tem como principal obstáculo a dimensão dos problemas e/ou a falta de financiamento para se atingirem os fins pretendidos. Contudo, se compararmos a evolução década a década, vemos que essa evolução é muito significativa, apesar de em muitos casos ser necessário recuperar décadas de erros acumulados.
ABES Notícias – Quais são suas expectativas para esta edição do Silubesa?
Paulo Ramísio – Os problemas de Portugal e do Brasil que têm sido debatidos nos vários SILUBESA continuam atuais, ou porque ainda não foram totalmente resolvidos, ou porque geraram novas preocupações na comunidade técnica e científica e por isso o tema geral deste simpósio – Soluções para um Melhor Saneamento Ambiental – ilustra precisamente esse enquadramento.
Este propósito será, com toda a certeza, obtido através da avaliação, discussão e proposta de soluções de melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente.
Estamos convictos que este XVII SILUBESA constituirá mais uma edição de sucesso e que as comunicações apresentadas contribuirão para responder aos desafios que os nossos países enfrentam na área dos Recursos Hídricos e da Engenharia Sanitária e Ambiental.
Para mais infoemações sobre a programação e como se inscrever para o Silubesa, acesse aqui.
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